Ao falarmos e refletirmos sobre competências de Comunicação, é comum fazermos referência a capacidade de transmitir mensagens com objetividade e clareza, de gerar compreensão e exercitar a escuta ativa. Outros aspectos também são relevantes para a efetividade desse processo, entre eles o Foco. Uma habilidade que favorece a percepção de emoções e sentimentos (próprios e alheios), propicia interações mais harmoniosas e permite observar com maior clareza coisas, situações e pessoas, ampliando assim as possibilidades de sintonia com quem nos comunicamos ou estabelecemos relações.
A atenção é um termo com origem no latim e significa “entrar em contato, nos conectar ao mundo, moldando e definindo a nossa experiência”. Em tempos marcados por estímulos, recursos, informações e distrações diversas, os quais podem levar ao déficit das habilidades emocionais, cognitivas e sociais, dominar essa habilidade representa estar de fato mais presente para outras pessoas e ter uma vida mais consciente e produtiva. De acordo com Daniel Goleman, em seu livro “Foco: a Atenção e seu Papel Fundamental para o Sucesso”, existe uma tríade que, quando dominada, é capaz de fortalecer o músculo vital da mente: o Foco. Essa tríade contempla as seguintes perspectivas:
Foco Interno
Sintoniza as pessoas com suas intuições, valores e objetivos, e com seu senso de propósito. É uma espécie de leme interno representado pela Autoconsciência e funciona como um mecanismo de controle. Em termos técnicos, quando direcionado para dentro, o Foco é capaz de amplificar a sensibilidade da ínsula (região atrás dos lobos frontais do cérebro), a qual mapeia a parte interna do nosso corpo por meio de circuitos que se ligam a órgãos como pulmões e coração, enviando sinais para que este diminua o ritmo e para que os pulmões respirem melhor. A ínsula sintoniza as pessoas, não somente aos seus órgãos, mas à noção que cada um tem de como está se sentindo. Pessoas que ignoram as próprias emoções e sentimentos e de outras pessoas, têm uma atividade lenta da ínsula quando comparado com a ativação encontrada naqueles que se apresentam altamente sintonizados com suas vidas emocionais internas.
Foco no Outro
Favorece interações e a criação de laços e de conexões com outras pessoas. Na esfera da Comunicação, manter o Foco no Outro e praticar a empatia é ser capaz de se conectar, ouvir e prestar atenção nos outros. Representa estar orientado às emoções alheias, produzindo assim relações mais empáticas. Essas relações são construídas com base no Foco compartilhado entre duas pessoas, o que leva a uma sincronia física inconsciente. A empatia requer um esforço da atenção e demanda entrar em sintonia com os sentimentos de outra pessoa, exigindo a assimilação de sinais faciais, vocais e de outros indícios emocionais. A própria anatomia do cérebro sugere a integração da autoconsciência com a empatia, pois as pessoas assimilam informações sobre si e sobre os outros dentro das mesmas redes neurais. Assim, a empatia demanda da autoconsciência a conexão consigo para a posterior leitura e foco no outro.
Foco Externo
Auxilia a transitar pelo mundo que cerca cada pessoa. Segundo Goleman “um fluxo constante de trocas não verbais se estabelece em relação a todos com quem interagimos, seja num cumprimento rotineiro ou numa negociação tensa, transmitindo mensagens que são recebidas com exatamente a mesma força de qualquer coisa que possamos dizer. Talvez com mais força”. Pessoas atentas a aspectos emocionais ou ao que contexto cultural e social no qual estão inseridas tendem a agir e se comunicar com maior habilidade e assertividade. Essa atenção permite que sinais sutis sejam observados e captados, servindo de guia quanto ao modo como as pessoas se comportam e se expressam. De forma que elas saibam não apenas o que dizer e fazer, mas, principalmente, de acordo com o contexto, o que não é conveniente nem agradável dizer ou fazer.
Em complemento ao equilíbrio desse Foco triplo, outro aspecto considerado relevante no que se refere a importância do Foco no desenvolvimento da competência Comunicação, é sua relação com a fronteira invisível do poder, visto que existem relações entre o poder e as pessoas em quem prestamos maior ou menor atenção. Cada um tende manter seu foco naquilo e naqueles que mais valorizam. Um estudo de Dacher Keltner, psicólogo da Universidade da Califórnia, em Berkley, sobre níveis de classes sociais, vigilância de ameaça e reatividade hostil, descobriu falhas de atenção ao comparar pessoas de altos cargos de uma organização com as mais simples na habilidade que tinham de ler emoções em expressões faciais. Durante qualquer uma das interações, a pessoa em posição mais alta na organização estudada apresentava menor tendência em manter o foco no olhar do outro e maior probabilidade de interromper e monopolizar conversas: dois sinais de falta de atenção.
E você, já parou para refletir a respeito de quais são as situações em que seu Foco, ou a falta dele, exerce maior impacto? Ou sobre quais são as atividades que você realiza e os momentos de interação em que você age com maior atenção?
Você exercita, desenvolve e fortalece seu Foco quando:
Indivíduo
- – Mantém sua atenção ativa, agindo para que sua rotina pessoal e profissional, e seus diálogos sejam estabelecidos de modo não automático.
- – Redobra o Foco e busca praticar a atenção seletiva, em especial, diante de ambientes conturbados e situações de conflito.
- – Busca refletir sobre quais oportunidades e momentos está deixando de usufruir, quando se deixa levar por distrações.
- – Exercita sua mente, ao desconectar-se, regularmente, de recursos tecnológicos ou de qualquer tipo de distração, como forma de descansar e restaurar sua energia mental, evitando assim a fadiga da atenção.
Liderança
- – Mantém o Foco e enfatiza nos membros de sua equipe aspectos positivos. Estabelecendo assim, diálogos que ampliem o raio de atenção de cada um deles para seus objetivos positivos e seus pontos fortes.
- – Ouve atentamente, articula e comunica a direção que sua equipe deve seguir. Tendo como base a atenção plena das emoções, sentimentos e necessidades das pessoas e a demonstração de abertura para, quando apropriado, tomar decisões por consenso.
- – Filtra o que não é relevante e direciona sua energia e seu Foco na direção da resolução racional de conflitos e do alcance de objetivos individuais, coletivos e organizacionais.
- – Resolve problemas, propõe soluções e toma decisões com base na consciência sistêmica, que contempla o foco em si, nos outros e nas consequências de médio e longo prazo de suas ações atuais.
E para dar continuidade ao desenvolvimento e ao fortalecimento da competência Comunicação com base no “Foco”, apresentamos algumas sugestões de estudo e de leitura sobre o tema:
Livro
Essencialismo: a Disciplinada Busca por Menos, de Greg McKeown: é um livro que defende a ideia de que se concentrar apenas no que é essencial é fundamental para a obtenção dos melhores resultados no trabalho. O autor sugere reflexões sobre a importância de cada um concentrar seu tempo e sua energia no que de fato é significativo no curto, médio e longo prazos, de buscar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, a partir da eliminação do que não é essencial e de tudo aquilo que gera desperdícios de tempo. Ele também fala sobre a necessidade de aprender a reduzir, simplificar e manter o foco nos objetivos, a fim de realizar tarefas que aproveitem ao máximo os talentos das pessoas, exercitando assim o Foco e o poder de escolha.
Filme
Gandhi (1982): é um filme dirigido pelo cineasta Richard Attenborough, sobre a trajetória do líder espiritual e pacifista indiano Mohandas Karamchand Gandhi. É possível observar diversas situações, as quais despertam reflexões e são fonte de aprendizado relacionados à Inteligência Emocional, Empatia, Humildade para Aprender, Coragem e Foco, necessários para guiar ações, decisões e promover mudanças.
Vídeo
TedTalks da Neurocientista Amishi Jha, sobre ‘Como Domar sua Mente Distraída’, no qual ela fala sobre como as pessoas prestam atenção e sobre o funcionamento do cérebro no processo de seleção do que é importante, em meio as diversas informações e estímulos recebidos. Ela também menciona que tanto as distrações externas quanto as internas diminuem o poder de atenção das pessoas mas que, por meio de algumas técnicas, é possível modificar esse quadro.
Dinâmica:
Esta dinâmica pode ser realizada para auxiliar os participantes a desenvolver a escuta ativa, como instrumento de comunicação, favorável para interações e relações pessoais e profissionais mais saudáveis e produtivas.
Dinâmica “Pássaros no Ar”
Objetivo: destacar a importância do Foco e da concentração, por meio do exercício da empatia e da escuta ativa, a fim de melhorar a compreensão ao comunicar e ao receber informações.
Público Recomendável: número mínimo de 02 e máximo de 20 participantes.
Tempo de Aplicação:cerca de 20 minutos.
Recursos/ Materiais: história ‘Pássaros de Fogo.
Aplicação:
1. O facilitador deve explicar para os participantes da dinâmica que será realizada uma atividade para que eles exercitem a atenção e a concentração.
2. Os participantes devem ser orientados a se acomodar, no local da dinâmica, sentados em círculo.
3. O facilitador deverá mencionar que irá contar uma história e que para determinadas palavras que forem ditas, o grupo deve fazer os seguintes movimentos (o facilitador deve demonstrar como fazer todos os movimentos):
a. Quando for dita a palavra pássaro, todos devem erguer a mão direita e fazê-la flutuar, imitando o movimento de um pássaro voando.
b. Quando for mencionado um grupo de pássaros, ambas as mãos deverão flutuar (conforme descrito na fase anterior).
c. Quando for mencionado um animal que não voa, os participantes deverão ficar imóveis, com as mãos sobre os joelhos.
4. Como complemento da etapa 3 da dinâmica, o facilitador deve explicar que cada participante que errar ou deixar de fazer os movimentos deixará de participar da dinâmica, sendo que o último a permanecer na atividade será o “vencedor”.
5. O facilitador deve certificar-se que todos os participantes compreenderam as instruções e inicia a história (apresentada a seguir):
História – Pássaros no Ar
(os movimentos descritos entre parênteses são apenas para facilitar a observação facilitador em relação aos participantes e não devem ser lidos em voz alta)
“Esta manhã levantei-me cedo. O dia estava magnífico. O sol de primavera animava toda natureza e os pássaros (duas mãos) cantavam sem cessar. Ao abrir a janela do quarto, um pardal (mão direita), sem cerimônia, invadiu a casa, pondo o gato (mãos no joelho) em polvorosa. O papagaio (mão direita) que estava no jardim de inverno irritou-se com a correria do gato (mãos no joelho) e pôs-se a berrar assustando os canários (duas mãos), que tranquilamente cantavam em suas gaiolas. O pardal (mão direita) acabou saindo pela janela, de onde entrou, deixando o gato (mãos no joelho) mais tranquilo, que foi brincar com o cachorro (mãos no joelho) já resignado com perda de seu pardal (mão direita) que planejava ter para o café da manhã. Sucessivamente, acalmaram-se o papagaio (mão direita) e os canários (duas mãos). Continuando a contemplar a natureza, observei que se aproximou de um lindo vaso de flores um beija-flor (mão direita). Aí pensei comigo, vai começar tudo de novo. O gato (mãos no joelho) felizmente, nesta altura se mantinha concentrado brincando com o cachorro (mãos no joelho) e não percebeu a aproximação do beija-flor (mão direita). O papagaio (mão direita) se divertia com uma corrente pendurada em sua gaiola e os canários (duas mãos) cantarolavam mais tranquilamente em suas gaiolas, saldando o lindo dia que iniciava…”.
Pontos de Análise e Discussão – Encerramento da Dinâmica
Ao término da dinâmica, é importante perguntar aos participantes o que eles acharam da atividade. Se eles conseguiram se concentrar. Quais foram as facilidades e dificuldades. Se conseguiram compreender a história (considerando que tinham que dividir a atenção em relação ao entendimento da história e aos movimentos solicitados). Caso necessário, a história pode ser lida novamente, agora sem a necessidade de fazer os movimentos, a fim de melhor compreende-la. Também é válido abrir espaço para que o grupo exponha, brevemente, suas considerações e conclusões.
É importante encerrar a discussão conectando os aprendizados da dinâmica que podem ser aplicados na rotina de trabalho, por exemplo, sugerindo a reflexão acerca da importância do Foco, de que ele precisa ser praticado e que, muitas vezes, por falta de atenção e concentração, podem ocorrer problemas de compreensão e comunicação, devido ao não entendimento do que é dito ou solicitado. Sendo assim, é necessário ter foco e atenção para amenizar tais problemas. Caso o grupo tenha interesse, a atividade pode ser repetida, como forma também de demonstrar que a prática e o treinamento contribuem para melhorar o desempenho.
Fontes:
GOLEMAN, D. (2014). Foco: a Atenção e seu Papel Fundamental para o Sucesso.