Por George Andrew Brough
Para quem vive inserido no mundo corporativo brasileiro, ajudando empresas a maximizarem o desempenho de seu capital humano, é comum ouvir lamentos pelo fato de muitos profissionais saírem das instituições de ensino (escolas, colégios técnicos e faculdades) tão pouco qualificados para o mercado de trabalho. Estas mesmas empresas, em geral e com frequência, necessitam investir consideráveis montantes em treinamentos básicos para que seus colaboradores contribuam de forma eficaz para o sucesso da organização.
Por outro lado, também estudantes e profissionais reclamam da empregabilidade nacional, cada vez mais acirrada e exigente em relação aos requisitos profissionais para o preenchimento de vagas, e alegam que, mesmo com o diploma em mãos, não conseguem o emprego com o qual sonharam.
Todas estas reclamações provocam imenso desperdício de tempo e dinheiro, além de desgaste da imagem dos profissionais que se formam periodicamente no Brasil, das empresas que os acolhem e das faculdades que têm o dever de formá-los. Também provocam arranhões na imagem do próprio país que internacionalmente não consegue alcançar o patamar de nação formadora de profissionais de qualidade, preparados para o mercado de trabalho, o que não é bem verdade.
Certamente, a energia gasta em reclamações e nesse estado geral de insatisfação seria melhor empregada na tentativa de mudar a situação, o que seria benéfico para todos os envolvidos. Ao invés de usar tanto tempo em críticas para a difícil situação da empregabilidade e do ensino no Brasil, é óbvio que a solução está na ação, no real “mãos à obra”, por meio da união das instituições de base: família (pais e alunos), escola e mercado.
Mas, a pergunta chave é: o que é possível fazer para mudar este quadro? E a resposta não é difícil: é preciso mais diálogo entre essas instituições.
As empresas já não consideram mais um diferencial a boa formação acadêmica, nem o domínio dos conhecimentos técnicos e teóricos de determinada função. A fluência em línguas estrangeiras e o conhecimento de novas tecnologias, embora muito apreciados e exigidos pelo mercado de trabalho, também não garantem a satisfação do empregador. Hoje, ele quer mais, quer casar o profissional com a empresa, quer que ele seja a cara de sua companhia, que se encaixe dentro da sua cultura sem anular pensamentos e ideias próprias, mas que se dedique ao negócio e traga novas soluções. Querem competências como empreendedorismo, capacidade de gestâo, noções de liderança, seja qual for a disciplina. No entanto, para que isso ocorra, é preciso que as características que as empresas das mais diversas áreas necessitam sejam trabalhadas dentro das escolas e universidades.
O primeiro passo é refletir sobre a responsabilidade do próprio profissional, enquanto estudante, ao escolher a universidade. Ele deve analisar a história da instituição, procurar saber o nível de empregabilidade de quem se formou quais os vínculos que a faculdade possui com a indústria, conhecer quem são os professores e verificar se possuem conhecimento dos conceitos e práticas mais atuais do mercado. Se o estudante se inscreve no primeiro curso que aparece apenas pela qualidade de seus anúncios, ele mesmo se torna culpado pela dificuldade de reverter o diploma universitário em um bom emprego ou estágio. Nesse ponto, os pais também têm a sua responsabilidade, pois devem orientar seus filhos e acompanhá-los na escolha.
A sociedade brasileira como um todo tem o dever de perceber que a formação técnica e acadêmica não é mais o único tipo de capacitação que as empresas buscam. Esse conhecimento os ajuda, certamente, a entrar no mercado, porém muitas empresas procuram por competências comportamentais, bem mais do que mera técnica. Por isto, compete à sociedade conversar com as instituições sobre o que querem e esperam do ensino que elas podem oferecer, sobre quais competências são necessárias para que seus alunos adquiram mais que as habilidades pré-estabelecidas por seus cursos.
E o que as empresas também podem fazer para melhorar a qualidade dos profissionais formados, com objetivo de que saiam das escolas e faculdades com as competências necessárias e estejam aptos para trabalhar? Pois, não seriam as empresas as maiores beneficiadas não só com aumento de produtividade, competitividade e lucratividade, mas também por gastarem menos tempo e dinheiro nos processos seletivos e, depois, para a capacitação efetiva desses profissionais?
Para adquirir todos estes benefícios, a primeira coisa que as empresas necessitam definir é exatamente o que quer dizer, para elas, “mão-de-obra qualificada”, e assim determinar quais as competências que faltam nos atuais profissionais e que elas necessitam, competências técnicas e comportamentais. Muitas empresas não se predispuseram ainda a colocar estas competências no papel, o que é imprescindível para que as faculdades possam adequá-las ao seu conteúdo programático.
Se as instituições formarem esta base de profissionais preparados, através da adaptação de seus cursos à qualificação necessária também serão beneficiadas porque buscarão seus profissionais na fonte. Por outro lado, quando isso ocorrer, essas instituições também passarão a ser mais procuradas pelos vestibulandos e todos saem ganhando.
Há numerosos exemplos de melhores práticas entre empresas e universidades no mundo inteiro que podem ilustrar este tipo de união proposta. A Irlanda, por exemplo, quando decidiu se tornar um pólo farmacêutico, incentivou as empresas do ramo a se preocuparem em conseguir mão-de-obra qualificada com conhecimento técnico e competências necessárias para o setor. Então, juntas, estas organizações foram para as universidades irlandesas, sentaram-se com suas autoridades e mostraram as necessidades que tinham, descreveram como deveriam ser os profissionais que buscavam. As faculdades, então, modificaram seus cursos para se adequarem às necessidades da indústria, mesmo porque precisavam empregar seus alunos. Os profissionais, por sua vez, saíam satisfeitos da faculdade porque ao final do curso já encontravam empregos na indústria farmacêutica.
No Brasil, existem iniciativas nesse sentido, como o Centro de Integração Empresa-Escola que se dedica à inclusão profissional de milhões de alunos de níel médio e superior e se responsabiliza pela realização de vários cursos com objetivo de fazer justamente o elo entre escola e empresa, estimulando o desenvolvimento das habilidades e competências que o mercado exige dos candidatos. Outro bom exemplo são as parcerias firmadas entre as empresas privadas com as universidades Unicamp, USP e o ITA, sobretudo no setor tecnológico.
Pela experiência da Caliper Estratégias Humanas, empresa com quase 50 anos de atuação no mercado mundial de gestão de talentos, apesar das dificuldades a serem superadas, os brasileiros já possuem diversas características esperadas de um bom líder, como ousadia, assertividade para expressar ideias e grande rapidez e flexibilidade para tomar decisões. Segundo pesquisa da empresa, o brasileiro tem condições de ser bem-sucedido em qualquer lugar do mundo, o que já é uma grande vantagem. Essa só nos faz acreditar ainda mais que transformação na sociedade brasileira, com a junção de forças entre escolas/universidades e empresas, além de ser extremamente benéfica para o desenvolvimento profissional, também deve contribuir muito para o desenvolvimento do Brasil.
* Artigo publicado pela revista Foco Economia e Negócios de novembro/2007.
* George Andrew Brough é Diretor de Desenvolvimento Organizacional da Caliper do Brasil.