Como o viés inconsciente no ambiente de trabalho pode influenciar nosso julgamento

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Escrito por Ali Shalfrooshan, Head de Pesquisa e Desenvolvimento Internacional de Avaliações

A qualidade do nosso julgamento e da nossa tomada de decisão está se tornando, cada vez mais, a habilidade mais crítica no trabalho. Com o tsunami de informações e a ampla adoção da inteligência artificial generativa, o principal diferencial dos profissionais será, progressivamente, a qualidade de suas decisões. E a precisão e a justiça dessas decisões são mais importantes do que nunca. Isso significa que precisamos estar muito atentos a fenômenos como o viés inconsciente e como ele impacta nosso pensamento e processo decisório.


O que é viés inconsciente no ambiente de trabalho?

Um fator que tem sido repetidamente identificado como prejudicial à nossa objetividade é o chamado viés. É um termo bastante comum – geralmente em um contexto negativo – e que possui muitas conotações, funcionando como um guarda-chuva para descrever diferentes comportamentos e resultados.

Por definição, viés é um preconceito contra uma pessoa ou grupo em comparação a outro. O viés inconsciente ocorre quando esse processo acontece sem que a pessoa tenha consciência disso. No entanto, no seu cerne, o viés é um resultado de processos cognitivos implícitos que nos ajudam a processar informações de forma eficiente. Assim, embora seja útil do ponto de vista evolutivo, o viés inconsciente no ambiente de trabalho pode reduzir a objetividade, levar a decisões ineficazes e até mesmo resultar em discriminação.


O impacto do viés inconsciente no ambiente de trabalho

O viés inconsciente vem sendo estudado há décadas e moldou nossa compreensão de como a percepção humana influencia o comportamento. Gordon Allport foi um dos primeiros a argumentar que o viés se origina de atalhos mentais e não apenas de comportamentos aprendidos. Na década de 1970, Amos Tversky e Daniel Kahneman identificaram heurísticas e vieses cognitivos, mostrando que os humanos confiam nesses atalhos para navegar pela vida de maneira mais eficaz.

Esses vieses inconscientes são universais e fazem parte de como processamos informações. Embora não influenciem todos os nossos julgamentos, podem impactar decisões críticas que tomamos tanto no trabalho quanto na vida pessoal.


O impacto do viés inconsciente na contratação

O viés inconsciente pode aparecer desde os primeiros estágios da aquisição de talentos. Uma metanálise de experimentos sobre discriminação na contratação ao longo de 15 anos revelou que candidatos de minorias étnicas recebem, em média, 33% menos respostas positivas em processos seletivos do que seus pares majoritários. Candidatos com deficiência recebem cerca de 40% menos respostas positivas, enquanto candidatos mais velhos enfrentam uma penalidade média de um terço. Quando esses vieses surgem tão cedo no processo, os candidatos impactados partem de uma grande desvantagem – difícil ou até impossível de superar.


O impacto do viés inconsciente nas promoções

Mesmo com um processo de contratação mais justo, o viés pode surgir em outros momentos da jornada do colaborador. Um relatório global de liderança revelou que 49% das mulheres e 46% dos homens pertencentes a minorias étnicas em cargos de liderança sênior afirmam que esperam mudar de empregador para avançar na carreira; entre homens que não fazem parte de minorias, esse número é de apenas 29%. As organizações devem investir no desenvolvimento interno dos seus talentos para manter os profissionais de alto desempenho, em vez de permitir que decisões enviesadas os levem a buscar oportunidades de crescimento em outros lugares.


O impacto do viés inconsciente na remuneração

O viés de gênero é especialmente preocupante quando se traduz em remuneração e afeta a capacidade das pessoas de sustentar a si mesmas e suas famílias. Segundo o Pew Research Center, em 2024, as mulheres nos Estados Unidos ganhavam, em média, 15% menos que os homens. Há cinco anos, a diferença era ainda maior para muitas mulheres negras e latinas: mulheres negras ganhavam 70% do que homens brancos ganhavam, enquanto mulheres hispânicas ganhavam 65%.


Reconhecendo as raízes do viés inconsciente

Mas afinal, o que leva ao viés inconsciente no ambiente de trabalho? Abaixo, destacamos alguns dos principais fatores.

1. Experiências e normas sociais
Nosso cérebro internaliza automaticamente expectativas e normas sociais. Esse referencial cultural molda nosso entendimento do que é considerado “normal”. Infelizmente, esse roteiro interno muitas vezes é pautado por estereótipos ultrapassados, transformando decisões de contratação e promoção em “testes de elenco”, em vez de seleções baseadas em mérito.

Por exemplo, estudos mostram que candidatos com nomes considerados “brancos” recebem de 9% a 24% mais retornos do que candidatos negros. É como se nossos algoritmos internos do YouTube ou Netflix recusassem sugestões diferentes, reforçando o mesmo padrão inconsciente.

2. Atalhos cognitivos
Nossa mente busca eficiência, por isso recorre às heurísticas – ou ao “pensamento rápido”, como descreveu Kahneman. Esses atalhos nos ajudam a agir com rapidez, mas também nos induzem a uma falsa sensação de objetividade. A facilidade com que lembramos de estereótipos reforça a impressão de que são verdadeiros, o que leva a decisões rápidas – e equivocadas.

3. Instinto de sobrevivência
O desejo de sobrevivência é o pano de fundo das experiências acima. No passado, o viés ajudava nossos ancestrais a identificar ameaças rapidamente. Ver um leão no mato exigia julgamento rápido – não uma análise detalhada do comportamento felino. Hoje, mesmo sem leões no escritório, aplicamos esses atalhos primitivos ao preferir colegas “parecidos conosco”, o que pode gerar exclusão em vez de colaboração.

Reconhecer que nossa visão de mundo é uma percepção – e não uma verdade objetiva – é essencial. Essa percepção é moldada pelos nossos instintos de sobrevivência, vivências sociais e atalhos mentais.


Como superar o viés inconsciente

Reconhecer e lidar com o viés inconsciente não só promove um ambiente de trabalho mais inclusivo, como também permite decisões melhores e mais inteligentes. Como brinca Kahneman, “pensar devagar costuma ser mais inteligente – mesmo que nosso cérebro impaciente diga o contrário”.

Aceitar que o viés inconsciente é universal e que ninguém está imune cria um ambiente mais justo e eficaz. O objetivo não é eliminá-lo – já que tem origens evolutivas e faz parte de quem somos –, mas reconhecê-lo, questionar nossas percepções e combater seus efeitos negativos.

Superar o viés inconsciente exige esforço consciente, processos bem estruturados e humildade para admitir que, às vezes, nosso cérebro – moldado por nossas experiências únicas – pode nos enganar. Reconhecer esses “truques mentais” nos permite ultrapassar as armadilhas dos vieses negativos e construir um ambiente de trabalho mais equitativo.


Sobre o autor:
Ali Shalfrooshan é psicólogo organizacional premiado, com foco em usar psicologia, tecnologia e design psicométrico para ajudar indivíduos e organizações a prosperar. Tem ampla experiência no desenvolvimento de soluções digitais para recrutamento e desenvolvimento, especialmente voltadas à inclusão, resiliência e justiça nos processos seletivos. É palestrante internacional sobre diversidade, equidade e inclusão e lidera o Centro de Excelência de DEI da Talogy globalmente.

Sobre a Talogy

Nós somos a Talogy. Os especialistas em gestão de talentos. Elaboramos soluções que analisam, selecionam, desenvolvem e engajam talentos em todo o mundo. Ao unir os principais psicólogos, cientistas de dados, desenvolvedores e consultores de RH, reunimos o poder da psicologia e da tecnologia para que você possa tomar as melhores decisões sobre pessoas orientadas por dados sobre pessoas. Com mais de 30 milhões de avaliações entregues todos os anos em mais de 50 idiomas, ajudamos os clientes a descobrir o brilhantismo organizacional.

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